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Meninas brasileiras, no geral, se saem melhor em português e os meninos se destacam em matemática. Mas o gênero, combinado a outros aspectos como raça/cor e região geográfica, pode interferir nesse desempenho. Por isso, para compreender as desigualdades educacionais é preciso considerar a intersecção de múltiplos fatores.

É o que mostram pesquisadores do Observatório da Equidade Educacional, coordenado pelo Núcleo de Excelência em Tecnologias Sociais (NEES), da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), a partir da análise dos resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2021.

O estudo está no policy brief “Interseccionalidade na Educação: revelando desigualdades invisíveis”, assinado por Angelina Nunes de Vasconcelos (Ufal), Gabriel Fortes (UAH-Chile), Leonardo Soares e Silva (IFPE Garanhus), Sofia Simanke (USP), Helena Reis (UFPR) e Carine Valéria (Ufal).

“Na educação, a interseccionalidade é crucial para compreender e abordar as complexas desigualdades que os estudantes enfrentam. Em vez de tratar as diferenças de gênero, raça/cor e região como isoladas, devemos considerar como esses fatores interagem e se reforçam mutuamente”, observa Angelina, coordenadora do Observatório da Equidade Educacional.

O observatório foi implementado em parceria com o Ministério da Educação (MEC), por meio da Secretaria de Educação Básica (SEB). O objetivo é colocar a promoção da equidade como tema central das políticas educacionais, a partir da identificação e análise das disparidades educacionais que afetam diferentes grupos de estudantes.

 

SAEB 2021

A pesquisa utilizou os resultados do Saeb, em português e matemática, dos estudantes do 5º ano do ensino fundamental.

Enquanto os meninos têm um desempenho geral superior em matemática e as meninas em português, o quadro muda quando considera-se a interseccionalidade dessas com raça/cor e localização geográfica. “Um fato que lança luz sobre as disparidades ocultas resultantes das interações entre gênero, raça/cor e localização geográfica”, ressaltam os pesquisadores.

Os dados do Observatório da Equidade revelam que embora as meninas tendem a ter desempenho inferior em matemática, as meninas brancas superam os meninos pretos e indígenas, especialmente nas regiões Norte e Nordeste.

“Da mesma forma, apesar dos meninos geralmente terem um desempenho inferior em português, os meninos brancos superam as meninas pretas e indígenas. Igualmente, isso é mais acentuado nas regiões Norte e Nordeste”, explica Gabriel Fortes.

 

RECOMENDAÇÕES

Entre as recomendações apresentadas no policy brief, estão a incorporação da interseccionalidade nas análises e políticas educacionais, a promoção da equidade em recursos educacionais e o apoio a pesquisas adicionais para entender melhor a interação complexa entre gênero, raça/cor e localização geográfica no desempenho acadêmico.

“Os responsáveis pela formulação de políticas devem reconhecer a interseccionalidade como uma ferramenta essencial para a identificação de disparidades. Ao incorporar essa perspectiva, será possível desenvolver políticas mais eficazes que abordem as necessidades específicas de diferentes grupos de alunos”, sugere o estudo do observatório.

 

FORTES, Gabriel; SILVA, Leonardo Soares e; VASCONCELOS, Angelina Nunes de; SIMANKE, Sofia; REIS, Helena; VALÉRIA, Carine. Interseccionalidade na Educação: Revelando Desigualdades Invisíveis. 2023. Policy Brief 2. Observatório de Equidade Educacional (NEES e SEB/MEC). Disponível em: [Interseccionalidade na Educação: revelando desigualdades invisíveis]