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Pesquisador do NEES apresenta resultados de estudo sobre PNLD na Universidade de Oxford, na Inglaterra

25 de junho de 2025

O pesquisador Alan Pedro, um dos fundadores do Núcleo de Excelência em Tecnologias Sociais (NEES), apresentou na Universidade de Oxford, na Inglaterra, no último dia 11, os resultados preliminares de uma pesquisa inovadora sobre o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), do governo brasileiro. Utilizando inteligência artificial, o estudo revela profundas desigualdades estruturais na representação de gênero e raça em 102 livros didáticos do ensino médio.

Alan é professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e pesquisador visitante da Universidade de Oxford, além de integrar um programa da Fundação Lemann que gera e dissemina conhecimento para aprimorar o setor público. A pesquisa sobre o PNLD está sendo realizada juntamente com Filipe Recch, também pesquisador do NEES. 

Um dos achados do estudo é que apesar de marcos legais que promovem equidade e inclusão, mais de 60% das referências nos livros didáticos analisados são a homens e também quase 60% a indivíduos brancos, o que revela descompasso entre a política nacional e a prática educacional. 

O NEES

Antes de abordar a pesquisa, Alan Pedro apresentou o NEES. Destacou que o núcleo, sediado em Alagoas, mas com pesquisadores espalhados em todo o Brasil e em diversos países, colabora com importantes políticas públicas, como o citado PNLD e o Pé-de-Meia, que concede auxílio financeiro para alunos do ensino médio da rede pública permanecerem na escola. Alan ressaltou ainda a atuação do NEES na reforma educacional de El Salvador.

Na apresentação, mostrou que o NEES já desenhou e colaborou com a implementação de mais de 15 políticas educacionais, oferecendo soluções de código aberto e fortalecendo a capacidade local para garantir a sustentabilidade operacional. Enfatizou ainda que o núcleo é líder no desenvolvimento de soluções de IA em contextos com recursos limitados. 

O NEES já atuou em mais de 2.600 municípios de 25 estados no Brasil, beneficiando mais de 37 milhões de estudantes por meio das políticas implementadas em parceria com o Ministério da Educação (MEC).

A PESQUISA

O PNLD fornece livros a mais de 180 mil escolas públicas, impactando mais de 37 milhões de estudantes em todo o Brasil. A partir da análise de mais de 80 mil ocorrências textuais, em 102 livros de diferentes disciplinas, os pesquisadores utilizaram técnicas de Processamento de Linguagem Natural (PLN) e Análise Crítica do Discurso (ACD) para verificar se os conteúdos estão de fato alinhados às diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), do Plano Plurianual (PPA) e das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais.

A análise revelou que 60% das referências nos livros são destinadas a personagens masculinos, enquanto as personagens femininas aparecem em apenas 40% dos casos. Além disso, as mulheres são majoritariamente associadas a papéis de cuidado, emoção e ações passivas, reforçando estereótipos de gênero em vez de desconstruí-los.

No quesito racial, o cenário é ainda mais preocupante. Os livros trazem 59,5% de representação branca, contra 17,6% de personagens negras e apenas 2,5% indígenas. Mulheres negras e indígenas são praticamente invisíveis nas narrativas. Mais grave ainda, verbos que indicam poder, como “liderar” e “decidir”, estão majoritariamente associados a homens brancos, enquanto expressões ligadas ao sofrimento, como “suportar” e “sofrer”, recaem sobre mulheres e minorias raciais.

O estudo propõe que as próximas edições do programa adotem critérios editoriais mais objetivos, priorizando conteúdos que valorizem a diversidade e promovam uma educação antirracista e inclusiva. Além disso, recomenda o uso da inteligência artificial como aliada no processo de avaliação dos materiais, tornando possível identificar e corrigir, de forma mais rápida e eficiente, os vieses presentes nas publicações.

A pesquisa também aponta para a necessidade de realizar análises de impacto social dos livros didáticos ao longo das últimas duas décadas. Para isso, os pesquisadores estão desenvolvendo um método computacional universal, que será compartilhado com a comunidade científica internacional, e planejam ampliar o estudo para comparações com outros países.

 “A educação tem um papel decisivo na transformação social. Os livros didáticos podem tanto reproduzir desigualdades como ser instrumentos potentes para desconstruí-las”, resume Alan Pedro.

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