Rafael Ferreira Mello
Nesta sexta-feira (24), Dia Internacional da Educação, promovido pela Unesco, que destaca o tema “IA e Educação: Preservar a Autonomia Humana num Mundo de Automação”, é um momento oportuno discutir como a inteligência artificial pode transformar práticas educacionais sem comprometer os valores humanos fundamentais.
Nesse cenário, iniciativas desenvolvidas pelo Núcleo de Excelência em Tecnologias Sociais (NEES) têm mostrado que o grande potencial da IA na educação não reside apenas na automação de tarefas, mas na sua capacidade de enriquecer os processos de ensino e aprendizagem de forma intencional, inclusiva e adaptada às realidades locais.
As pesquisas conduzidas por nós, pesquisadores do NEES, reforçam que a integração da inteligência artificial na educação deve ir além da simples adoção de tecnologias disponíveis. Temos o compromisso em planejar e desenvolver soluções que respeitem as realidades culturais, sociais e pedagógicas, promovendo um impacto positivo e significativo na aprendizagem.
Destaco três pontos importantes para a adoção de IA na educação. O primeiro é a intencionalidade. A adoção de tecnologias de IA na educação não deve ser motivada apenas pela disponibilidade no mercado, mas sim por uma visão intencional que priorize as necessidades dos estudantes e professores.
Além disso, é importante ressaltar que a tecnologia por si só não resolve os problemas se não estiver alinhada a uma metodologia que esteja de acordo com os objetivos de aprendizagem de um determinado cenário educacional.

Outra contribuição importante é a ideia de que a implementação da IA em contextos educacionais não requer, necessariamente, o uso direto de tecnologia por parte dos alunos. Um exemplo é a IA desplugada, um conceito em expansão no Brasil que busca soluções aplicáveis em contextos com infraestrutura tecnológica limitada.
Tecnologias como sistemas baseados em IA para a digitalização e correção de redações escritas à mão, desenvolvidas por equipes como a do NEES, exemplificam como a inovação pode atender realidades diversas, reduzindo custos e ampliando o impacto da educação, especialmente em regiões menos favorecidas.
Por fim, a integração da IA na educação precisa estar dentro do contexto local. Ferramentas genéricas, como chatbots amplamente disponíveis, podem falhar ao não considerar as nuances pedagógicas e sociais específicas de comunidades locais.
Pesquisas do NEES têm destacado a necessidade de adaptar soluções de IA às realidades culturais, linguísticas e pedagógicas para garantir que essas tecnologias realmente atendam às necessidades dos professores e alunos, fortalecendo o papel da educação como um direito humano universal.
O tema proposto pela Unesco para o Dia Internacional da Educação em 2025 nos ajuda a entender ainda mais que o papel da pesquisa em IA educacional deve ser uma ponte para um futuro, onde a tecnologia é desenvolvida para ampliar o potencial humano, preservando a autonomia e valorizando a diversidade em todos os contextos educacionais.
Rafael Ferreira Mello é phD em Ciência da Computação, pesquisador do NEES, professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e pesquisador sênior da CESAR School. É líder em dois projetos de âmbito nacional, financiados pelo MEC, que envolvem IA.